terça-feira, 5 de junho de 2012

Mostra Pasolini Celebra Os 90 Anos Do Nascimento Do Cineasta No Museu Da Imagem E Do Som


Pier Paolo Pasolini, grande mestre do cinema italiano, recebe homenagem noMIS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, pelos 90 anos de seu nascimento. A Mostra Pasolini, que acontece entre os dias 6 e 10 de junho, traz sessões de clássicos do diretor, mostra fotográfica e uma conferência acerca de seu trabalho. O evento, que tem parceria com o Istituto Italiano di Cultura de São Paulo, em colaboração com a Cineteca di Bologna, integra o Momento Itália no Brasil 2011/2012.
As principais obras de Pasolini, como Teorema e Contos de Canterbuy, serão exibidas em duas sessões diárias. Já no dia 8, sexta-feira, o público também poderá participar da conferência “O oriente de Pasolini”, ministrada pelo fotógrafo italiano Roberto Villa, às 18h30. Durante toda a Mostra, acontece a exposição fotográfica “O evangelho segundo Pier Paolo”, com stills do filme As mil e uma noites.
Todas as atividades do evento são gratuitas. As sessões de cinema acontecem noAuditório MIS (173 lugares), e é preciso retirar o ingresso com 1h de antecedência na recepção. A classificação indicativa, para todos os filmes, é 18 anos. Já a mostra fotográfica fica no foyer do Auditório. Confira, abaixo, os detalhes da programação:
 Quarta, 06.06
19h | 
Coquetel de inauguração da exposição fotográfica “O evangelho segundo Pier Paolo”, com apresentação de André Sturm (MIS) e Attilio De Gasperis (IIC SP)
20h | Projeção do filme O Evangelho segundo São Mateus (134´) 
Quinta, 07.06
18h30 
Mamma Roma (95´)
20h | Accattone (116´)
Sexta, 08.0618h30 | Conferência “O Oriente de Pasolini”, ministrada pelo fotógrafo italiano Roberto Villa
20h | Projeção do filme As mil e uma noites (129´)
Sábado, 09.06
14h
 | Teorema (98´)
16h | Medéia  (110´)
Domingo, 10.06
14h | Passarinhos e Passarões (85´)
16h |  Ro.Go.Pa.G. (110´)
18h
 |  Contos de Canterbury  (116´)
SERVIÇO
Mostra Pasolini | 06 a 10.06.2012Local: Auditório MIS (173 lugares) e Foyer (mostra fotográfica)
Entrada: Grátis – retirada de ingressos com 1h de antecedência na recepção
Classificação etária: 18 anos
Museu da Imagem e do Som – MISEndereço: Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo
Informações:             (11) 2117 4777       | www.mis-sp.org.brEstacionamento conveniado: R$ 8. Acesso e elevador para cadeirantes. Ar condicionado.
*As informações são de responsabilidade de seus organizadores e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.

O imemorial, para Pasolini, interessa porque não pode ser recordado; sobrevive, antes, enquanto força de resistência

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA



Antes e depois de sua morte, num assassinato brutal em 1975, Pier Paolo Pasolini carregou a aura do escândalo por ter sido sempre um homem "do contra".
O marxismo nos ideais e o homossexualismo no desejo fizeram do poeta e cineasta italiano um pária, atento e apaixonado por todo tipo de marginalidade e exclusão social e cultural.
Se estivesse vivo, Pasolini teria completado 90 anos no dia 5/3. Como homenagem, o MIS (Museu da Imagem e do Som) apresenta, a partir de amanhã, oportunidade para conhecer ou rever a faceta cinematográfica de Pasolini, em uma mostra que reúne nove títulos de sua filmografia.
Durante o evento, "O Evangelho Segundo São Mateus", "Teorema" e "Contos de Canterbury" serão exibidos em película, e os outros títulos, em DVD.
O MIS recebe também, até o dia 16, a exposição "O Evangelho Segundo Pier Paolo", composta por imagens de "As Mil e Uma Noites", filme programado no ciclo.
No dia 8, às 18h30, o fotógrafo italiano Roberto Villa apresenta a conferência "O Oriente de Pasolini". Villa acompanhou o cineasta nas filmagens de "As Mil e Uma Noites", em 1974, no Iêmen, e retratou o universo físico e a diversidade humana com um olhar complementar.
Os títulos programados nos permitem compreender o lugar e toda a dimensão do percurso pasoliniano no contexto dos anos 1960, fase de consolidação do que se convencionou chamar "cinema moderno".
Depois de amadurecer uma linguagem e um ideário como poeta, escritor e linguista, Pasolini aproximou-se do cinema ao longo dos anos 1950, primeiro como roteirista, assinando o texto de obras-primas de Federico Fellini e Mauro Bolognini.
EXPERIMENTAÇÕES
Nos 23 títulos que dirigiu, entre longas e curtas, documentários e ficções, Pasolini experimentou recursos visuais e narrativos. Com eles, acreditava, o cinema ultrapassa a escrita por ser capaz de reproduzir a realidade em sua materialidade, física e temporalmente, em vez de traduzi-la noutra linguagem.
Desde seus primeiros filmes, "Accatone" (1961) e "Mamma Roma" (1962), reconhece-se o diálogo com a tradição do neorrealismo e a vocação para pôr a nu as chagas sociais.
Ambas as obras, por sua vez, evidenciam a busca por uma linguagem autônoma, capaz de se entranhar na vida para arrancar algo vivo, em vez de apenas mimetizá-la e domá-la.
"A Ricota", episódio do longa coletivo "Ro.Go.Pa.G" (1963), e "O Evangelho Segundo São Mateus" dialogam com a matriz cristã sem para isso incorrerem em devoção.
E, se o primeiro faz uma crítica feroz da apropriação de Cristo como personagem do espetáculo da redenção, o segundo prioriza Jesus como um mito, parte em busca de sua originalidade e de seu papel como fundamento da cultura ocidental.
Daí em diante, cada instante da obra será fortalecido pela ênfase nas contradições, pela lucidez em expor a dinâmica por meio da qual o moderno devora o arcaico sem assimilá-lo.
Esse retorno ao passado não se confunde com nostalgia. O imemorial, para Pasolini, interessa porque não pode ser recordado nem assimilado. Sobrevive, antes de mais nada, enquanto força de resistência, um mistério que não se consome.

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