sábado, 28 de julho de 2012

Teorema & Odetta



 


 

Em Teorema (1968), Odetta cai num estado catatônico de silêncio absoluto, os olhos abertos e punhos cerrados. Pasolini escolheu a filha daquela família burguesa para expressar a capacidade de uma jovem mulher em resistir à opressão cultural que segundo ele grassava entre as classes privilegiadas na Itália da década de 60 do século passado. Paradoxalmente, a garantia da liberdade dela consistiria nesse enclausuramento hermético em si mesma – se guardando desse mundo “profanado”. Segundo Collen Ryan-Scheutz, o singular gesto de Odetta com seu silêncio, olhos abertos e punho fechado não significa a incapacidade dela de aprender sua essência numa sociedade corrupta. Ao contrário, sua atitude prova que ela percebe e captura sua essência e que, apesar de pagar o preço de perder seu lugar na sociedade, Odetta não a deixará escapar. O preço então é se tornar um desviante, alguém para quem não há lugar na sociedade? O fato de a família acabar internando Odetta numa clínica psiquiátrica mostra apenas a incapacidade da sociedade burguesa tolerar a “diversidade encarnada” de uma forma definitiva. Outra forma de ausência que vale como presença é o silêncio de Emilia, a funcionária da casa burguesa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário