sexta-feira, 8 de junho de 2012

Edson Bueno Por Pagu Leal

A pedido do Ivam Cabral dos Satyros, para a Centro de Formação das Artes do Palco/São Paulo,  Pagu Leal (atriz, autora e diretora) escreveu um texto sobre o Edson Bueno.



“Durante nossa trajetória de artistas de teatro, muita gente passa. Muitos trabalhos diferentes, muita alma, muito dilema, muita vida, muito abraço, muito avião, muito espelho compartilhado, muito pancake, muita espera, muito não. Eu acho que, pra tanta coisa vivida, até que fica pouca coisa guardada. A memória não dá conta de tantas histórias. Indistintos são os dias daquela longínqua temporada em que sumiu o refletor, que o espartilho não fechou, que a peruca sumiu. Quando foi mesmo? Comigo é assim, boa parte da minha trajetória, o conteúdo precioso da minha caixa de fotos de teatro, minhas melhores crônicas são as vividas ao lado do Edson Bueno.
 A gente já fez o diabo juntos! Fomos marido e mulher, professor e aluna, amante, amigo. Pra ele já fui menina, soldado, velha, puta, entre outras. Criamos com Oscar Wilde, Edgar Allan Poe, Shakespeare e Kafka. Texto dele. Texto meu. Ele já me dirigiu mais de 20 vezes e eu, também, já tive a honra dirigi-lo, e ele, a generosidade de se deixar dirigir por mim. Já fizemos muito teatro, cinema, TV e comida juntos. Um bocado de vida e de emoção. Porque viver perto de um criador como o Edson é encher a vida de emoção.
 Tem de tudo entre nós. Tem tons e gestos aprendidos com os anos de convívio. Tem familiaridades. Tem aquela cara que eu conheço. E tem também uma coisa que ele faz, uma curiosa característica do Edson, que eu adoro. Estamos lá, ensaiando a cena, e ele lá, vendo a cena, quando, de repente, ele pula de sopetão, morde a língua e esfrega suas mão em cima da cabeça. É o sinal! Segure-se! Lá vem! Vem loucura e poesia. O que vem de lá é arte.
 De todas as nossas vidas em comum, de tudo o que já passamos, de todos os momentos, o mais precioso, pra mim, é aquele em que ele está diretor e eu atriz – uma imensa capacidade criativa com uma inesgotável energia. É muito envolvente trabalhar com o Edson. Eu vibro com ele. Eu piro com ele. Ele me perturba. Ele me irrita. Ele me põe louca, mas, nunca perdida. Nunca sem direção. Eu confio. Mente e intuição. É isso, esta coisa de confiar inteiramente que faz mais intensa esta relação diretor/atriz. Acreditar que aquela pessoa não vai te apontar o caminho errado, mesmo que você não entenda porque ele quer a cena daquele jeito. Isso é raro. Para uma pessoa cética como eu, quase impossível. Não é fácil. Nem sempre é bom. E não há outro jeito. É profundo e perturbador criar junto. Talvez, não haja ninguém que habite tantos opostos em meu coração. Já o odiei muitas vezes, porém, muito mais vezes o amei de olhos fechados.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário