sábado, 23 de junho de 2012

Pasolini, Um Escritor Sem Barreiras



As tragédias deveriam ter sido sete, mas Teorema, cuja primeira versão data de 1966, foi sendo transformada de peça (inédita) em roteiro cinematográfico, filme e, por fim, em romance. Em algumas peças, a referência à mitologia grega foi direta; em outras, mais velada, mas quase sempre lida à luz da psicanálise: é sintomático que seja a linguagem do inconsciente a predominar, com a projeção da tragédia (particular e histórica) do homem contemporâneo nos mitos do passado.

Em 1963, Pasolini havia começado a elaborar La divina mimesis, obra continuada entre 1964 e 1966 ou 1967, mas deixada incompleta, e publicada só em 1975. Tendo como modelo da Divina comédia, o autor desdobra-se em Dante Alighieri e em seu guia, o poeta latino Virgílio, trazendo também para o campo fi ccional o embate travado com aquela Itália que ele via dominada pelo neocapitalismo.

Livro-laboratório ■ A relação de Pasolini com a literatura começou a esgarçar-se depois deTeorema (1968), pois havia passado a dedicar-se cada vez mais ao cinema. Já em 1965, tinha apresentado a famosa comunicação “O cinema de poesia”, na qual propunha a afirmação da dimensão subjetiva no discurso narrativo. Tomando emprestada à teoria literária a noção de discurso indireto livre (que ele havia amplamente empregado desde seus primeiros romances), o cineasta criava a subjetiva indireta livre, fazendo derivar o termo também de um procedimento cinematográfico tradicional, o de câmera subjetiva, que corresponde ao ponto de vista da personagem. Essa comunicação gerou debates tão acalorados quanto os provocados, em 1964, pela conferência “Nuove questioni linguistiche”, na qual anunciava que, pela primeira vez, o italiano podia ser considerado língua nacional. Os dois ensaios integrarão Empirismo hereje (1972).

Em 1992, é lançado Petrolio, seu último romance, que começou a escrever em 1972 e deixou incompleto. A publicação causou uma grande polêmica. Texto fragmentário, Petrolio, nas intenções do autor, era uma espécie de livro-laboratório, no qual pretendia ir além dos limites da literatura.


Texto de Mariarosaria Fabris, professora aposentada da USP. Mestre em Língua e Literatura Italiana e Doutora em Artes (Cinema), é autora de Nelson Pereira dos Santos: um olhar neorealista?(1994) e O neo-realismo cinematográfico italiano: uma leitura (1996).





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