Edson Bueno
Tudo sempre volta. Eu tinha não mais que 18 anos quando entrei de gaiato
no Cine Condor (que não existe mais como todos os cinemas de rua!) e desavisadamente
dei de cara com “Teorema”, dirigido por um tal italiano chamado Pier Paolo
Pasolini. Um filme complexo demais para minha pouca idade, mas também
compreensível, pelo menos na superfície, para um piá que amava o cinema, mas
estava a quilômetros do mundo das ideias. “Teorema” e sua complexidade
política, moral e religiosa era um mistério pra mim, mas o seu deboche para com
as convenções hipócritas do mundo burguês e civilizado já tocava fundo no meu
coraçãozinho inquieto. Saí do cinema pensando o sexo, a beleza e o medo. A
figura daquele pai transtornado, estacionando nu no meio da estação, ficou
gravada na minha memória. O que Pasolini queria dizer que eu não compreendia?
Era cedo para tanto, mas o poder das imagens e a simplicidade do cinema já eram
compreensíveis. E quis saber quem era esse diretor tão provocador e original.
Eu, que era filhote legítimo do cinema americano. Pasolini abriu pra mim as
portas do cinema arte pura. Abriu as portas para a ousadia das temáticas e das
imagens; abriu as portas do cinema europeu. Entre outras coisas, sem saber (e
talvez sem pretender) me deu a certeza de que não estava sozinho no meio do
universo; eu com as minhas dúvidas, ansiedades e temores. E de “Teorema” até
“Saló” eu vi todo o Pasolini que me foi possível. E vivi, com tudo que pude, a
sua história belissimamente artística e tragicamente humana com a intimidade de
um amigo, companheiro e fã incondicional. Os anos passaram desde o dia em que, em
plena Praça Generoso Marques abri um jornal e soube da notícia de sua morte;
mas Pasolini permanece vivo em meu espírito, porque o que é profundo e
consequente não nos abandona com facilidade. E ainda continua a espinhar as
entranhas porque os mistérios nunca desvendados vivem em nossos sonhos e
desejos, não nos dão sossego e nos incitam eternamente. Em algum momento esse
mito, esse deus da loucura, esse farol da consciência, viria até mim para
cobrar uma opinião. Chegou esse tempo, pelo desejo do Elder, de provocar-se com
o artista, mistura de deus e demônio, de sátiro e ingênuo! Pasolini, por
caminhos de paixão pelo perigoso e pelo artístico, resolveu dar as caras em
minha vida. Chegou a hora de dar-lhe uma resposta de tanto amor e prazer, de
tanta certeza de ter acompanhado sempre uma obra da qual nunca duvidei uma
palavra ou um plano de cinema. Chegou a hora de voltar a Pasolini! E o melhor
caminho é (eu que nunca dou a mínima para o passado!) voltando aos meus 18
aninhos e me imaginando (lembrando), ansioso e tonto, na fila do Cine Condor,
comprando meu ingresso para ver um tal filme, que mudaria a minha visão da vida
e do cinema. Mudaria não! Daria o start para a compreensão dela como algo tão
escancarado, mas que pode muito bem ser uma prisão caso a soma de um mais um
seja sempre dois! Pasolini, aqui estou eu! Nos conhecemos há mais de três
décadas, que tal um passeio? Pois vamos
à viagem...!
Fiquei emocionado. É um prazer estar ao lado de pessoas com espírito e alma de artista. Bueno você é um mestre e tenho certeza que todos envolvidos nesse processo terão esse momento marcado em suas memórias. Com sonho, paixão e arte , assim entra Pasolini em nossas vidas. E desde já sou grato por ter a sorte de fazer teatro com pessoas que admiro na vida e na arte. A toda equipe e envolvidos bem vindos! Ao público boa Viagem o prazer será todo nosso!
ResponderExcluirOu melhor, de todos nós!!
grato