quinta-feira, 10 de maio de 2012

"Análise Tardia", Pier Paolo Pasolini



Se bem, se bem que estou no fundo da fossa;
Que tudo aquilo que toco já não tocado;
Que sou prisioneiro de um interesse indecente;
Que cada convalescença é uma recaída;
Que as águas estão estancadas e tudo tem um sabor velho;
Que também o humorismo forma parte do bloco inamovível;
Que não faço outra coisa senão reduzir o novo ao antigo;
Que não desejo todavia reconhecer quem sou;
Que já perdi até a antiga paciência de ourives;
Que a velhice há ressaltado por impaciência apenas a miséria;
Que não sairei nunca daqui por mais que sorria;
Que dou voltas de um lado ao outro pela terra como uma fera enjaulada;
De que tenho tantas cordas que tenho terminado por tirar de uma só;
Que me gosta enlamear-me porque o barro é matéria pobre e, portanto, pura;
Que adoro a luz somente se não oferece esperança.


                                             Pier Paolo Pasolini

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