sexta-feira, 11 de maio de 2012

Pasolini & Seus Filmes – 2

Mamma Roma


O poeta, artista, que faz da linguagem cinematográfica a matéria prima para sua arte, nasce, de verdade, em “Mamma Roma” (1962), seu segundo filme. Durante toda a narrativa, Pasolini exercita seu papel de radical observador da sociedade italiana, abandonada à pobreza. A degeneração do homem, fruto de uma realidade crua e sem perspectivas, vai se desenvolvendo numa história que, como em “Accattone”, é feita de vagabundos, prostitutas e cafetões; sem moral, objetivos de vida, miseráveis e pobres. O destino trágico e o neoneorealismo (ssim mesmo!) de Pasolini é a forma, filha direta do conteúdo. Mas nos últimos cinco minutos do filme, quando as tragédias de Mamma Roma e seu filho Ettore, finalmente se apresentam e o destino, carrasco precoce, decide dar um “fine” às suas histórias, Pasolini abandona totalmente a narrativa tradicional, joga para o alto a lógica e o realismo e se entrega de corpo e alma à poesia. E alguma coisa verdadeiramente cinematográfica e profundamente original o que acontece. Fotografia, edição, mis-em-scéne e trilha sonora estão agora a serviço do puro cinema. E nasce o escultor do tempo. São cinco minutos geniais, modernos, puros e emocionantes. Pasolini deixa então de ser um seguidor de seus mestres e mostra a que veio. Um artista de personalidade forte e ousado. Mas “Mamma Roma” não fica por aí. Tem na interpretação da grade Anna Magnani um trunfo inigualável! Conta a lenda que os dois não se entenderam e que Anna se ressentia de ser tratada com desprezo diante do tratamento carinhoso que Pasolini dedicava aos atores amadores do cast. Fato é que, se a linguagem de Pasolini leva em conta o amadorismo das interpretações e deles tira o frescor da vida, Anna Magnani, na contramão contribui com expressão e vigor. Cada close seu é uma descoberta, uma invenção, uma obra de arte!
Filho e mãe conversam em off, em seus pensamentos, um falando do outro em imagens contundentes! É o resumo de Pasolini, deitando por terra a inocência, a primeira vítima do mundo insano:
Mamãe! Não aguento mais. Juro, não aguento mais. Agora estou calmo. Levem-me para Guidonia, onde eu estava quando era pequenino. Mamãe, mamãe! Estou morrendo de frio. Estou mal! Diga para eles que não quero ficar aqui. Mamãe! ... Filho, pobre filho! Veio só ao mundo. Cresceu só, como um pobre passarinho. Olhava em volta, procurando não sei o quê. Sozinho. ... Mamãe, mamãe, eu estou morrendo. Passei a noite aqui. Não aguento mais. Mamãe, por que estão fazendo isso?

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